terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

UMA PROPOSTA REDENTORA EM TEMPOS DE RUINA.


Recuperar a alma é sair deste abismo de alienação em que nos encontramos, percebendo assim o nosso direito ao prazer. (Rubem Alves)


Tanto a poesia quanto o brinquedo tornam-se manifestações da utopia de um mundo melhor a ser construído. E as crianças estão nesta luta de ruptura. Elas são as que saem perdendo neste jogo. Infelizmente, não existe nenhum respeito em relação ao universo infantil, ao mundo da criança, e o adulto com sua “experiência” passa com seu trator, destruindo os castelos de sonhos, e todas as suas fantasias são colocadas em xeque, destronando a possibilidade, de que as crianças possam um dia ser senhoras de si, e por fim, elas vem sendo transformadas em súditos (escravos) de um sistema castrador.
As atividades e as brincadeiras cotidianas mostram a presença marcante da televisão, determinando o conteúdo das conversas e modelando o imaginário da criança em uma dada direção. A televisão teve grande responsabilidade pelo enorme empobrecimento das faculdades intelectuais e morais da sociedade. Os meios de informação, liderados principalmente pela televisão, diz Pasolini: organizaram um trabalho de padronização destruidora de qualquer autenticidade. (PASOLINI, 86). É necessário o surgimento de uma nova ética do olhar sobre as coisas do mundo moderno, rompendo definitivamente com o confinamento da espécie humana a um mundo repetitivo e banalizado. “Antes os pássaros cantavam e as pessoas saiam do livro[1]”, permitindo assim, as próprias crianças penetrarem nas coisas durante o contemplar da história. A criança diante da história, do conto, da narrativa e da brincadeira, coloca em prática a sua arte, vencendo a parede ilusória da superfície e adentra nos bastidores tomando posse do palco, onde ela mesma vive. Vive a história.
É necessário que nós educadores recuperemos a alma infantil através de nossa atividade educativa. É através do lazer e das atividades lúdicas que podemos possibilitar uma saída deste abismo de alienação em que nos encontramos, percebendo assim o nosso direito ao prazer (lazer).
O lazer estudado aqui, trata-se de um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se ... A proposta do lazer criativo, põe em destaque a necessidade de abordar com medidas e intenções educativas o relevante fenômeno social do lazer, para garantir que o mesmo seja realmente um “tempo livre” para os alunos que se encontram em nossas obras.
O tempo livre é uma fonte, muitas vezes desconhecida de aprendizagem. Deve-se haver um certo equilíbrio entre a aprendizagem através do trabalho escolar e a autoformação do tempo livre.
A proposta do lazer, da recreação e da atividade lúdica nas escolas, não vem a ser um certo “alheamento”, ou um “desviar a atenção” e sim como diz o educador Rubem Alves, que é como levá-los a uma “atração por um outro mundo”... Mundo diferente, mundo melhor, de sonho e invenção, de uma sociedade mais justa, de um ser mais humano.
A começar na infância, uma vez que para o desenvolvimento de uma cultura da criança é extremamente necessário a disponibilidade do espaço, isto é fundamental. Há nos tempos atuais e é percebido na escola também, uma crescente e negativa diminuição das ocasiões de reunião das crianças, isto é, das brincadeiras coletivas, tão importantes no aprendizado da vida em grupo e no desenvolvimento do sentimento comunitário. Isto infelizmente os currículos e as propostas educacionais atuais em algumas escolas não contemplam.
Eu vejo a escola na verdade como um centro de cultura popular – percebo que é necessário uma “dessacralização” do que entendemos de escola. Raramente a atividade lúdica é considerada pela escola, e quando isso ocorre, as propostas são tão carregadas pelo adjetivo “educativo”, que perdem as possibilidades de realização do brinquedo, da alegria e da espontaneidade, da festa. O lúdico vem sendo negado à infância.
Em uma análise dos direitos da criança, foi considerada a importância específica de assegurá-la o direito de sonhar. É negativo e terrivelmente prejudicial, à criança não lhe dar o direito de acreditar que o impossível pode fazer-se possível.
Exigir que a criança acredite apenas no possível é uma forma de esterilizar sua inteligência... E de impedir que ela tenha fé.
“É preciso que ao intervir, o adulto respeite os direitos da criança. Deixe por exemplo, que elas lhe ensinem sonhos”


[1] Visão do livro infantil, 69

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