quarta-feira, 12 de maio de 2010

A ASSISTENCIA SALESIANA: PRESENÇA NO PÁTIO, NA RECREAÇÃO E NA VIDA



O educador salesiano é uma pessoa que ama aquilo que agrada aos jovens, mas, ao mesmo tempo, orienta para que eles também possam amar aquilo de que ele gosta[1]”. A palavra “assistência”, hoje, poderíamos traduzi-la por “animação”. O conteúdo da palavra “animação” implica um modo de participar e de intervir. O educador do Sistema Preventivo se encontra no pátio para ser o animador dos jogos. Ele não é alguém que observa de longe.
Ele não é o “chefe”. É, ao contrario, o “fermento” da recreação. O educador não pode abandonar o educando à mercê das forças desordenadas do ambiente em que vive, ainda que ele tenha sempre que se confrontar com este ambiente[2]. O educador “dá ao educando ampla liberdade de pular, correr, gritar à vontade[3] procurando sempre acompanhá-lo”. Inclusive no “pátio” deve valer aquele princípio que recomenda colocar o educando “na moral impossibilidade de cometer faltas”[4].
A presença contínua é, com efeito; a norma fundamental da assistência[5]. Poderia até parecer que o educador devesse ficar sempre no pátio, com a finalidade de coibir e bloquear o educando. Muito pelo contrário. Ele está aí para animar. Poder-se-ia ainda pensar numa hipocrisia crônica do educando, devido à presença constante do educador. O jovem, pelo contrário, vive a sua vida livremente, como se aí não estivesse presente o educador.
O educador, além disso, deve ter a convicção de que os “meninos cometem faltas mais por excesso de vivacidade do que por malícia[6], mais por não serem bem assistidos do que por maldade”. Para prevenir as faltas, “sem dar aparência” de fazê-lo, o educador dispõe de dois meios: fazer de tal modo que todos possam tomar parte na recreação[7], praticando algum tipo de jogo e também interferência para corrigir o educando com algum aviso, dado de maneira amigável”[8].
É papel do educador animar os jogos, condição para prevenir eficazmente as faltas. Chegando ao pátio, introduzir-se entre os educandos para participar dos jogos. Enquanto joga, porém, deve ter a consciência de que está realizando um trabalho educativo. Ele deve não apenas animar o jogo do seu time, mas também não perder nunca de vista os demais que estão no pátio[9].
Esta proposta de atividade e postura que o educador salesiano assumi, não contribui de forma alguma à evasão do real e nem contribui para uma possível alienação. Eu creio que o “jogo do saber”[10], praticado com características lúdicas e recreativas, passam a ser uma alternativa para a denúncia da realidade, tal como se apresenta, e assim sendo a escola longe de ser encarada como espaço de alienação, poderia ser vista como um dos espaços de resistência.
Venho propor, uma prática pedagógica que relacione a necessidade de trabalhar para a mudança do futuro, através da ação no presente, e a necessidade de vivenciar todo o processo de mudança, sem abrir mão do prazer. O que é necessário valorizar, uma escola como centro de cultura e da sala de aula como ponto de encontro e encontro humano.
[1] BRAIDO, Pietro, Il sistema preventivo di Don Bosco, Zürich, PAS-Verlag, 1964, p. 404.
[2] SECCO, L., La dinamica umana della realtà educativa, Brescia, La Scuola, 1978, p. 69ss.
[3] BOSCO, G., Il sistema preventivo, em SP, p. 195.
[4] BOSCO, G., op. cit. , p.193.
[5] No livro BOUQUIER, H., Don Bosco educateur, Paris, Tequi, 1950, o autor dedica um capítulo inteiro à assistência e a define como lei fundamental do Sistema Preventivo.
[6] MB IV, p. 553.
[7] BRAIDO, Pietro (organização de). S. Giov. Bosco, Scritti sul sistema preventivo nell’ educazione della gioventù, Brescia, La Scuola, 1965, p. 376.
[8] BOSCO, G., Il Sistema Preventivo, em SP, p. 193.
[9] Dom Bosco era o primeiro nos jogos, a alma do recreio. Com a presença e com o olhar se encontrava em todos os cantos do pátio, no meio de cada grupo de jovens, participando de todos os divertimentos. Numa partida começava a contenda, e Dom Bosco a dizer a quem interessava: - Vá àquele outro grupo em que falta um jogador, eu o substituo -. E jogava de palitos, bochas, etc., com aplausos daqueles que ficavam felizes de ter Dom Bosco por companheiro.Quando, portanto, em outro jogo aparecia alguém que usava modos e palavras incovenientes: - Você! Venha ocupar meu lugar, eu o substituo – E fazia a substituição. Assim passava de um ponto a outro do pátio, sempre ostentando a pose de hábil jogador, o que lhe exigia sacrifício e cansaço continuo” (MB III, p. 126).
[10] Termo usado por Nelson C. Marcellino em seu livro: Pedagogia da animação. P. 97

Nenhum comentário: